O Celophane Cultural abre suas portas pra receber uma tradição vinda de Portugal, mas que logo tomou formas brasileiras. Uma Folia, daqueles que foram a Belém levar os presentes pro menino Jesus, Aqui em nossa tradição, eles vem festejando pelas ruas, com um mestre, uma banda, estranhos palhaços e uma bandeira carregada de simbologias e religiosidade.
De onde vem esta tradição:
Folia de Reis é um festejo de origem portuguesa ligado às comemorações do culto católico do Natal, trazido para o Brasil ainda nos primórdios da formação da identidade cultural brasileira, e que ainda hoje mantém-se vivo nas manifestações folclóricas de muitas regiões do país tanto no interior como nas grandes capitais.
Na tradição católica, a passagem bíblica em que o menino Jesus foi visitado por reis magos, converteu-se na tradicional visitação feita pelos três “Reis Magos”, denominados Melchior, Baltasar e Gaspar, os quais passaram a ser referenciados como santos a partir do século VIII.
Fixado o nascimento de Jesus Cristo a 25 de dezembro, adotou-se a data da visitação dos Reis Magos como sendo o dia 6 de Janeiro que, em alguns países de origem latina, especialmente aqueles cuja cultura tem origem espanhola, passou a ser a mais importante data comemorativa católica, mais importante, inclusive, que o próprio Natal. No estado do Rio de Janeiro, os grupos realizam folias até o dia 20 de Janeiro, dia de São Sebastião e padroeiro do Estado.
Na cultura tradicional brasileira a Folia ganhou força especialmente no século XIX e mantém-se viva em muitas regiões do país, sobretudo nas pequenas cidades dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Rio de Janeiro, dentre outros.
A Folia Brasileira
No Brasil a visitação das casas é feita por grupos organizados, muitos dos quais motivados por propósitos sociais e filantrópicos. Cada grupo, chamado em alguns lugares de Folia de Reis, em outros Terno de Reis, é composto por músicos tocando instrumentos, em sua maioria de confecção caseira e artesanal, como tambores, reco-reco, flauta e rabeca (espécie de violino rústico), além da tradicional viola caipira e do acordeão, também conhecida em certas regiões como sanfona, gaita ou pé-de-bode.
Além dos músicos instrumentistas e cantores, o grupo muitas vezes se compõe também de dançarinos, palhaços e outras figuras devidamente fardadas segundo as lendas e tradições locais. Todos se organizam sob a liderança do Capitão da Folia e seguem com reverência os passos da bandeira, cumprindo rituais tradicionais de inquestionável beleza e riqueza cultural.
As canções são sempre sobre temas religiosos, com exceção daquelas tocadas nas tradicionais paradas para jantares, almoços ou repouso dos foliões, onde acontecem animadas festas com cantorias e danças típicas regionais, como catira, moda de viola e cateretê. Contudo ao contrário dos Reis da tradição, o propósito da folia não é o de levar presentes mas de recebê-los do dono da casa, em troca por graça alcançada. Os foliões são recebidos durante a madrugada com doações e fartas mesas com comes e bebes.
A Bandeira
O costume de usar bandeiras ou estandartes em cortejos e procissões rituais no Brasil, também vem de Portugal, muito usado nas corporações de ofícios medievais, irmandades religiosas, e companhias militares.
Câmara Cascudo diz que a palavra bandeira vem de “bando, bandaria, grupo sob o mesmo simbolo”.
Na Folia de Reis, a bandeira é um objeto “Sagrado” guardado e cuidado na sede da Folia por uma Bandeireira, res´ponsável pelo sua manutenção. Geralmente ela fica sobre um altar todos os dias do ano e só sai para a Folia.
Sempre com a imagem de Santos, S. Sebastião, menino Jesus etc etc… são enfeitados e cobertos por fitas coloridas. A bandeira carrega o “fundamento” da Folia e é responsável pelas graças alcançadas.
Ao visitar uma casa, a Bandeira guia a folia e é a primeira a entrar sendo oferecida ao dono da casa (devoto) que permanece com ela todo o tempo da visita dos foliões. Um dos gestos mais conhecidos de fé ao poder da bandeira é beijar ou passar suas fitas pelo corpo, ou ainda amarrar dinheiro nelas.
Os Palhaços
Um dos personagens mais curiosos das Folias e que sempre me chamaram a atenção, pela força plástica, são os mascarados palhaços. Estes personagens prinicpais das folias, carregam a missão de vertir as máscaras e representar estes personagens, muitas vezes por cumprimento de uma promessa aos reis. Eles fazem parte do fundamento religioso entre a Bandeira e a máscara, o sagrado e o profano.
Ao sair para a folia o ato da colocação da máscara representa todo um ritual que deve ser cumprido á risca diante da Bandeira, reforçando a missão que por vezes dura sete anos, sem poder ser quebrada.
O corpo de quem carrega a máscara também rompe barreiras físicas, pois as acrobacias cambalhotas e piruetas que fazem parte de uma virtuosa apresentação, por vezes absurdas mostrando assim o grau de dedicação e devoção daquele que o carrega.
As máscaras e fardas sempre com um tom grotesco são consideradas contagiosas, pois só devem ser manipuladas e guardadas por aquele que as utiliza, carregam uma carga mágico-religiosa muito fortes.
Os palhaços das Folias representam também os guardas de Herodes. Quando Herodes ficou sabendo que ía nascer o novo Rei, que havia sido enviado, pela profecia, Herodes, ordenou seus guardas correrem o mundo atrás do salvador. Quando Jesus nasceu Herodes então mandou matar todas as crianças e essa matança representa isso, a própria máscara representa essa coisa demoníaca, o diabo, o assassino do menino Jesus. O mais interessante é que Jesus os converteu no decorrer da história.
“Os bons palhaços não só das Folias precisam de força espiritual, malandragem, vivência e malícia. Caso contrário são engolidos.” Inimar dos Reis
Encontro nacional de Folia de Reis em Muqui – ES
O Encontro é uma seqüência do Torneio de Folias iniciado em 1950 na cidade de Muqui, sul do Espírito Santo. O Encontro reúne grupos folclóricos do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, e acontece há 60 anos. É o maior e o mais antigo encontro do gênero no Brasil.
Atualmente, o evento tem características de encontro, o que significa que não há disputa entre os grupos. Assim, promove-se a difusão da cultura popular, além do belíssimo espetáculo cênico oferecido aos turistas, durante as apresentações das Folias no Sítio histórico.
O festejo acontece durante todo o dia. Pela manhã, os grupos folclóricos chegam e há o chamado congraçamento, uma espécie de cumprimento, saudação entre os foliões. À tarde, por volta das 16h as folias saem pela rua e cantam em diversas casas, incluindo casarões do sítio histórico. Depois há a bênção das folias na Igreja Matriz, um dos pontos altos do Encontro.
No evento, que tem data móvel, os grupos, vestidos com roupas coloridas, cantam e tocam instrumentos musicais. É uma grande festa folclórica e religiosa. Turistas de várias regiões visitam a cidade, atraídos pela riqueza cultural ou por pura fé cristã. Seja por um, por outro, ou por ambos motivos, o que importa é que vale a pena conhecer este Encontro cheio de cor, música e energia positiva.
Além da festa, a cidade reúne o maior número de imóveis tombados pelo patrimônio histórico estadual. Os 200 Casarões de Muqui compõem o maior sítio histórico do Espírito Santo. No encontro anual, as folias e a arquitetura local se harmonizam. É a tradição popular dando vida ao que restou do império dos barões do café na bela e acolhedora Muqui.
Infelizmente as chuvas de Dezembro causaram enchentes na bela cidade provocando pânico na cidade com algumas destruições e acidentes. Acompanhe pelo site:
http://www.muqui.es.gov.br/
Encontro de Folia de Reis em Muqui – ES
Vamos pedir aos Reis que olhem pelo nosso patrimônio castigado pela natureza.
Fontes:
Fotos: Gui Chsit
Site: www.guichrist.com
Blog dia de folia
Flickr: www.flickr.com/photos/gui_c
Fotos: Rodrigo Gavini – www.rodrigogavini.wordpress.com
Site Overmundo – http://overmundo.com.br
Wikipedia: wikipedia
“A Bandeira e a Máscara – A circulação de objetos rituais nas folias de reis” – Daniel Bitter
Blog Os Palhaços do nosso Povo: http://ospalhacosdonossopovo.blogspot.com/
Seus artigos, sempre transbordando cultura e brasilidade (embora a festa seja de origem europeia). E o melhor de tudo é que não chamou o rei de Belchior. rsrsrsrs…
Abraços!
Jeff, que impressionante!… As fotos são muito vibrantes, mexem com o olhar, tem valor, contraste, contrastes… incrível! muito lindo… parabéns!
Amauri
Na verdade, não deveria me impressionar mais com seu trabalho, pois já deveria estar acostumada. Mas não tem jeito: por mais que tenha aprendido com você, acompanhado sempre essa criatividade e bom gosto, sua inteligência em saber que sempre podemos aprender e fazer isso de forma magestral me deixa sempre, continuamente, embasbacada.
Parabéns por mais uma invasão de cultura a nossa mente!!!
Eu que agradeço a todos voces e principalmente a voce Jessyca (minha eterna filhona) deixarem a porta aberta, pra que eu possa entrar com a minha bandeira.
Um abraço Cultural
Ótima matéria.
Dê umas risadas ouvindo o programa sobre as Folias de Reis de Valença que cobrimos em 2007.
http://www.CAS.podomatic.com
Este ano voltamos lá para realizar um outro programa, desta vez em português.
Parabéns pelo site.
MUito bom o site, já acompanhando.
Olá
Parabens pelo blog, lindo trabalho e ótimo texto, porém a última foto deste post esta com os créditos errado, essa imagem não é – Foto Gui Christ – site: Hoje é dia de folia, e sim minha Rodrigo Gavini, conforme vc pode conferir no meu blog http://rodrigogavini.wordpress.com/2010/11/14/folia-de-reis/
Atts
Caro Rodrigo
Desculpe a falha, mas já está devidamente atualizado. Obrigado pela prestimosa colaboração.
Valeu Jeffcelophane
Sem problemas e mais uma vez parabens pelo blog.
Abraço
Este blog tem sempre coisas interessantes de nossa cultura! Viva Jeff!
parabéns pelo blog pelo post
cada vez que vejo um pedacinho dessa tradição me sinto mais viva
este ano eu fui abençoada e vou carregar a bandeira
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